A dor é uma das grandes preocupações da humanidade desde o inicio da civilização. Foi definida em 2001 segundo a Associação Internacional de Estudos da Dor (IASP) como “uma experiência sensorial e emocional desagradável, podendo estar associada a dano real ou potencial aos tecidos.” Tal experiência é sempre subjetiva e pessoal, gerando sofrimento ao individuo. É ainda um sintoma fundamental, atuando como um mecanismo de defesa, alertando-nos de que algo dentro do nosso corpo não vai bem.
Desde 1996, James Campbell da Sociedade Americana de Dor apontou para a necessidade de a DOR ser reconhecida como o 5° sinal vital. Seu objetivo foi de elevar a conscientização entre os profissionais de saúde sobre o tratamento da dor e promover por consequência, melhores chances de tratamento. Sendo assim, quando cuidadosamente avaliada e adequadamente tratada, as chances da dor se tornar crônica, reduzem consideravelmente. Estudos estimam que a prevalência de dor crônica no mundo esteja em torno de 10,1 a 55,5%, com uma média de 35,5%. No Brasil, a estimativa está em torno de 37%, próximo da media mundial.
Buscar estratégias para livrar-se dela, é praticamente instintivo entre nós. Evitamos movimentos que possam gerar agravamento da dor, repousamos, nos medicamos, seguimos orientações profissionais ou até mesmo de amigos, parentes e conhecidos que obtiveram uma “resolução” a partir de uma experiência pessoal.
Atenção especial é necessária ao escolher o caminho a ser seguido em relação ao tratamento. Enganado está aquele que acredita que a dor é o problema principal. A dor é somente o sintoma. O problema principal é a causa que gera ou gerou o sintoma e que o perpetua.
Na ausência deste questionamento e entendimento, o tratamento passa a ser todo voltado para o sintoma, isto é, a dor, não permitindo a resolução e a sustentabilidade das propostas terapêuticas.
Ao termos uma alteração em um de nossos sinais vitais, como por exemplo, uma febre alta, uma investigação clínica e de exames complementares se inicia, para identificar o foco de uma provável infecção e direcionar ao tratamento adequado.
E sobre a DOR, nosso 5º sinal vital… Por onde começar a investigação?
Identificar a causa da dor musculoesquelética de origem mecânica, nem sempre é uma tarefa fácil para os profissionais da reabilitação física, nem tão pouco aos indivíduos que a vivenciam. Exige do profissional um olhar abrangente sobre três principais aspectos relacionados ao paciente:
1) Análise dos AMBIENTES nos quais o paciente convive: o ambiente de trabalho, lazer e doméstico são confortáveis e oferecem segurança e boa ergonomia? Caso a resposta para essa pergunta seja não, grandes são as chances de o indivíduo se lesionar de maneira lenta e progressiva. Neste cenário, o apontamento para a necessidade de mudanças e adaptações no ambiente é infelizmente e frequentemente realizado quando parte do problema já está instalado. Atente-se a isso!
2) Análise acerca das EXIGÊNCIAS das TAREFAS realizadas nestes ambientes: as tarefas realizadas por seu paciente exigem dele a permanência em posturas ou movimentos que sobrecarregam uma ou mais estruturas? A condição física de seu paciente é compatível com as demandas de tais tarefas?A partir do conhecimento destas exigências, quais seriam as estratégias a serem implantadas para diminuir as sobrecargas nos tecidos corporais e a probabilidade de lesões nestas estruturas?
3) Análise de como o INDIVÍDUO é MORFOLOGICAMENTE e como REALIZA as tarefas nestes ambientes: nosso corpo entra em movimento ou postura toda vez que realizamos uma ação ou tarefa. A forma na qual nos movimentamos em nossas ações cotidianas, estão intimamente relacionadas ao risco de desenvolvermos lesões e dores. Por isso, investigar e identificar padrões de movimentos lesivos é de extrema importância, assim como a orientação de mudança para um padrão postural e do movimento mais fisiológico e saudável.
A morfologia do indivíduo pode trazer informações relevantes e complementares dando significado para a forma como um determinado corpo de movimenta e interage com seu ambiente, além de indicar regiões de vulnerabilidade para o surgimento de lesões e dores.
Além da atuação específica do profissional da saúde, é fundamental e desejável que o paciente, enquanto instrumento ativo no processo de prevenção e tratamento da saúde de seu corpo se questione e passe a dedicar mais atenção para estas questões relacionadas ao seu 5º sinal vital.
A você paciente, segue abaixo algumas dicas que visam aumentar a sua percepção sobre seu quadro doloroso, de forma a trazer informações relevantes que possam ajudar você diretamente e aos profissionais da saúde que o acompanham:
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Local da dor: qual a região do seu corpo que dói? O detalhamento da área dolorosa é a primeira informação para juntos iniciarmos a investigação sobre ela…
Apesar desta informação ser essencial, nem sempre a região dolorosa discriminada por você é o local onde a causa da dor reside. Uma dor na coluna cervical, por exemplo, pode ter origem na bacia. Uma dor no ombro, por exemplo, pode ter origem na coluna torácica, que por sua vez é dependente da organização da coluna lombar e bacia.
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Tempo de dor: você sabe se sua dor é aguda ou crônica? A resposta para essa pergunta depende de quanto tempo você tem dor…
Seria desejável que a dor fosse sempre aguda (breve e transitória), com duração de alguns dias ou poucas semanas, até que o estimulo nocivo seja removido ou até que o tecido lesionado se repare. No entanto, quando o estimulo nocivo é tardiamente identificado e a dor persiste por mais de três meses, a dor é caracterizada como crônica.
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Intensidade da dor: a intensidade da dor sempre é um dado subjetivo e pessoal e nem sempre fácil de ser relatada pelo paciente. Pensando em melhorar a qualidade do fornecimento desta informação, identificar o impacto da lesão e do quadro doloroso no individuo e avaliar a eficácia e evolução do tratamento proposto, várias escalas foram criadas, como por exemplo, a ilustrada abaixo. Por meio de uma escala numérica, você pode quantificar a intensidade da dor e classifica-la como leve, moderada ou intensa.
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Característica da dor: existem diferentes tipos de dores existentes a depender das estruturas comprometidas. As dores que evoluem com os sintomas de pontadas, fisgadas, choques elétricos são aquelas que normalmente afetam o sistema nervoso (cérebro, medula espinhal e nervos periféricos), chamada de dor neuropática. As dores que surgem devido às lesões nos tecidos muscular, ósseo, fascial, nos ligamentos e nas articulações são chamadas de dor nociceptiva ou inflamatória. Possui esta denominação por resultar na estimulação dos receptores da dor (nociceptores), que estão localizados na pele, nos tecidos descritos acima ou nos órgãos internos. Esse tipo de dor é, em geral, profunda, intensa, em peso, pressão ou latejante. Existe ainda a dor psicogênica, causada, aumentada ou prolongada por fatores mentais, emocionais e comportamentais. Neste tipo de dor, nenhum mecanismo nociceptivo ou neuropático é identificado, dificultando por vezes o diagnóstico. Qual o seu tipo de dor?
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Períodos do dia de maior ou menor incidência da dor: atentar para os períodos do dia de maior ou menor incidência da sua dor pode fazer você identificar correlações com o aumento ou diminuição do quadro doloroso com as funções realizadas nestes períodos e de que forma seu corpo se posicionou para realiza-las. A partir daí, investigar o que pode estar inadequado e propor melhorias. Por exemplo: você ao final do dia, antes de dormir, está sem dor. Porém, ao acordar pela manhã, sente com frequência dor em seu pescoço! Será que a posição que você está adotando para dormir está adequada? O travesseiro que utiliza para posicionar a cabeça tem a altura adequada para você?
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Fatores que contribuem para a melhora da dor: você já percebeu melhora da dor quando lança mão de determinado recurso, postura ou movimento?
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Fatores que contribuem para a piora da dor: você consegue identificar atividades, posturas, movimentos que agravam sua dor e que podem provavelmente estar contribuindo para a piora da sua lesão? Evite-os!
Agora, com as dicas recebidas de como melhor perceber os fatores relacionados à sua dor, você poderá melhor auxiliar o profissional que o acompanha em sua avaliação e tratamento, além de evitar fatores já percebidos que agravam seu quadro doloroso.
Ft. Patrícia Pellegrini Nomoto
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